26 de mai. de 2013

Porta dos Fundos é processado por vídeo da "Rola"

Nessa última semana, circulou pela internet a notícia de que um indivíduo processou o canal brasileiro mais acessado do YouTube, o “Porta dos Fundos”. Tudo isso por conta de um vídeo chamado “Rola”, que supostamente fere o ideal de “moral e bons costumes”. O material em questão tem pouco mais de um minuto de duração e não é lá o mais engraçado que já foi produzido por eles. Mas por que gerou tanta polêmica a ponto de haver um pedido de censura? O segundo vídeo mais visto do canal até agora (o excelente “Sobre a Mesa”, com mais de 7 milhões de visualizações) possui uma personagem feminina que descreve seus desejos sexuais de forma explícita para o marido, utilizando palavras de baixo calão e mesmo assim foi muito bem recebido pelos espectadores. Então, qual o problema?

Claramente, o tipo de humor oferecido pelos atores Fábio Porchat, Gregório Duvivier e cia. é pautado no politicamente incorreto. Eles nunca disseram o contrário. Orgulham-se disso. Após mais de 90 vídeos lançados, já se sabe o que esperar. E é o que a massa gosta, é o que faz rir. Os números não mentem. Mas, de verdade, o que seria mais politicamente incorreto? Falar do órgão sexual masculino ou permitir que crianças utilizem a internet a seu bel prazer, sem um monitoramento adequado? Não se enganem: o mundo virtual nada mais é do que uma extensão do mundo real. Se uma criança precisa de cuidados no parquinho, na piscina e na escola, deve ser cuidada também enquanto usuária da internet.

O Porta dos Fundos não é um canal televisivo, não é um filme que passa na TV aberta (embora esta dê espaço a filmes como “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”. Ótimos, sim. Mas que retratam a realidade muito mais censurável do Brasil. Não seria isso verdadeiramente preocupante?), portanto assiste quem quer – inclusive, na TV, também assiste quem quer. O nosso país vive um momento crítico, de valores invertidos, onde uma parte da população sente-se atingida por fatores diminutos. Um vídeo falando de uma “rola” é insignificante perto do fato de que existem, nesse exato momento, mulheres, crianças e até mesmo homens sendo violentados. Esse é o tipo de coisa que não desaparece da sua vida se você apertar o Stop.

Devido à nossa história, deveríamos lutar cada vez mais pela liberdade de expressão. Já fomos muito podados no passado. Nossos artistas não possuíam a liberdade para criar. Precisavam viver na clandestinidade, utilizar metáforas para se fazer entender, para poder gritar sua insatisfação perante o Sistema. Um pênis não fere a moral humana, uma vagina não fere a moral humana. Todos nós temos um ou outro. O que destrói o ser humano é a incapacidade de expressar seus pensamentos, seus desejos. Praticar o que lhe dá prazer. O motivo de uma “rola” gerar esse tipo de incômodo, nem Freud explica. Mas, quem sabe o próprio Porta dos Fundos não faz um vídeo satirizando a história? Seria uma rola, digo, um chute na bunda do homem que levou o processo.

Fonte: Literatortuta
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